Dietas
Quanto mais come, menos vive o animal.
Quanto mais come, menos vive o animal.
O New England Journal of Medicine, a revista médica de maior circulação, trouxe uma revisão sobre aporte calórico e envelhecimento que revoluciona antigos conceitos sobre alimentação e duração da vida.
Já na década de 1930, ficou demonstrado que camundongos mantidos em regime de restrição calórica apresentavam maior longevidade e tinham menos doenças associadas ao envelhecimento.
Estudos posteriores foram desenvolvidos com três grupos de ratos : o primeiro alimentado sem restrição de quantidade (ad libitum); o segundo, com redução de 30% no número de calorias ingeridas, em relação ao anterior, e o terceiro, com um corte de 60%.
Morreram antes os “ad libitum”, depois os que comeram 30% menos e mais tarde, ainda, o grupo com restrição de 60%.
Se tomarmos em cada um dos grupos anteriores os 10% que viveram mais e tirarmos a média de suas idades ao morrer, verificaremos que o segundo grupo atinge idade cerca de 30% maior e o terceiro 60% maior do que o primeiro, deixando claro que a diminuição do número de calorias na dieta é proporcional à longevidade dos grupos.
Primeira conclusão: respeitados os limites da desnutrição, a expectativa máxima de vida é inversamente proporcional ao número de calorias ingeridas diariamente.
Para avaliar o papel do exercício físico na longevidade, tomemos dois grupos de ratos que ingerem exatamente o mesmo número de calorias diárias.
Um grupo é colocado para fazer exercício naquelas rodas em que o ratinho anda sem sair do lugar; o outro permanece na gaiola, sedentário.
No final, os ratos atletas pesam 40% menos do que os preguiçosos e atingem vida média maior. A duração máxima de vida (longevidade), no entanto, é igual para os dois grupos.
Segunda conclusão: o exercício físico aumenta a sobrevida média, mas não estende os limites da vida.
O exercício pode evitar que você morra de infarto aos cinqüenta anos (o que não é pouco), mas não faz ninguém bater o recorde mundial de cento e vinte dois anos.
Existe um tipo de rato chamado C57BL-BJ que é, como muitos dos nossos leitores, geneticamente obeso.
Os ratos dessa linhagem são portadores do gene ob-ob, que condiciona um comportamento metabólico que conduz à obesidade.
Num experimento, dois grupos desses animais foram separados: o primeiro alimentado ad libitum e o segundo mantido com restrição calórica.
No final, no grupo ad libitum, a gordura representava em média 67% do peso corpóreo; no grupo com restrição, 48% e a expectativa máxima de vida destes ratos foi 50% maior do que a dos alimentados ad libitum, como seria de esperar.
Tomemos agora este segundo grupo de ratos ob-ob com dieta restrita e 48% de gordura no corpo e comparemos com um grupo sem o gene da obesidade, submetido a uma dieta com número idêntico de calorias.
Terminada a experiência, os ratos magros terão apenas 13% de gordura no corpo (contra os 48% dos portadores do gene mantidos com a mesma dieta, e 67% dos ad libitum geneticamente obesos).
No entanto, a expectativa máxima de vida dos dois grupos que ingeriram o mesmo número de calorias é exatamente igual, porém maior do que a dos ad libitum.
Terceira conclusão: o número de calorias ingeridas, não o grau de adiposidade, é o fator chave em prolongar a vida.
Você pode ser gordo ou magro, não vem ao caso, é o número de calorias diárias que interessa para a longevidade.
Em todos os estudos realizados emergem outros dois conceitos fundamentais:
1) Desde que não haja subnutrição, a longevidade não depende de qualquer nutriente em particular, apenas do número de calorias;
2) A restrição calórica deve ser continuamente mantida e quanto mais precocemente iniciada, melhor eficácia terá. Seus benefícios, entretanto, são demonstrados mesmo em idades mais avançadas.
O SEGREDO DA VIDA LONGA
Na pré-história, os homens passavam seus genes para frente e morriam aos vinte ou trinta anos.
A longevidade não exerceu pressão seletiva, porque a fase fértil começa precocemente na espécie humana; caso a fertilidade de homens e mulheres só ocorresse depois dos setenta anos, a evolução natural teria selecionado aqueles capazes de viver longos períodos (e procriar).
Há dez mil anos, com a chegada da agricultura, a média de duração da vida aumentou.
No início do século XX, quem nascia na Europa vivia perto de cinqüenta anos; hoje, nas sociedades pós-industriais, essa média ultrapassa os setenta anos.
Esse aumento na média da duração de vida ocorreu graças à melhora das condições do meio ocorridas desde o homem caçador até a era da informática.
No mesmo período, no entanto, a longevidade humana permaneceu basicamente inalterada (completar cem anos ainda é privilégio de poucos).
Isso ocorre porque, enquanto a duração média da vida de uma população depende das condições ambientais, o aumento da longevidade individual só ocorre se houver retardo no processo de envelhecimento.
A restrição calórica aumenta a longevidade de seres tão diversos como o paramécio (ser unicelular identificado nas aulas de biologia no exame microscópico de uma gota de água parada), a pulga d’água, a mosca da banana, aranhas, répteis, galinhas, e também de mamíferos como os ratos.
Isto faz crer que exista um mecanismo ubíquo para o processo de envelhecimento, selecionado pela evolução para todos os seres vivos.
É altamente pretensioso imaginar que a evolução selecionasse um mecanismo de envelhecimento, dependente do aporte calórico, válido para todas as espécies, e outro especial exclusivo para o Homo sapiens.
RESTRIÇÃO CALÓRICA E AS DOENÇAS DA VELHICE
Nos roedores, a restrição calórica retarda a instalação de doenças associadas ao envelhecimento como câncer (incluindo mama e próstata, dois dos tipos mais freqüentes no homem), problemas renais e cataratas.
Linhagens especiais de ratos que desenvolvem doenças auto-imunes (como artrite ou lúpus, por exemplo) e morrem ao redor dos doze meses de idade, se alimentados ad libitum, ultrapassam vinte meses sem adoecer quando submetidos à restrição calórica.
Na verdade, certas respostas à restrição são extremamente rápidas. Por exemplo, em ratos, a concentração de açúcar (glicose) no sangue cai 20% após apenas cinco dias de restrição calórica.
RESTRIÇÃO CALÓRICA E AS DOENÇAS DA VELHICE
Nos roedores, a restrição calórica retarda a instalação de doenças associadas ao envelhecimento como câncer (incluindo mama e próstata, dois dos tipos mais freqüentes no homem), problemas renais e cataratas.
Linhagens especiais de ratos que desenvolvem doenças auto-imunes (como artrite ou lúpus, por exemplo) e morrem ao redor dos doze meses de idade, se alimentados ad libitum, ultrapassam vinte meses sem adoecer quando submetidos à restrição calórica.
Na verdade, certas respostas à restrição são extremamente rápidas. Por exemplo, em ratos, a concentração de açúcar (glicose) no sangue cai 20% após apenas cinco dias de restrição calórica.
Em macacos, ocorre resposta semelhante.
Nos homens, esses estudos encontram muita dificuldade na quantificação do número de calorias ingeridas. Um trabalho destinado a avaliar o efeito da dieta ocidentalizada em populações japonesas mostrou que na ilha de Okinawa, onde a alimentação é mais tradicional e o aporte calórico 17% mais baixo do que a média do país, a mortalidade por câncer, doenças cardiovasculares e derrames cerebrais é de 31% a 41% menor.
Na Suécia, altos níveis de consumo calórico demonstraram estar associados a maior incidência de câncer de próstata. Estudos epidemiológicos sugerem que a mesma associação talvez exista para câncer de intestino, de estômago e, possivelmente, câncer de mama.
Nos homens, esses estudos encontram muita dificuldade na quantificação do número de calorias ingeridas. Um trabalho destinado a avaliar o efeito da dieta ocidentalizada em populações japonesas mostrou que na ilha de Okinawa, onde a alimentação é mais tradicional e o aporte calórico 17% mais baixo do que a média do país, a mortalidade por câncer, doenças cardiovasculares e derrames cerebrais é de 31% a 41% menor.
Na Suécia, altos níveis de consumo calórico demonstraram estar associados a maior incidência de câncer de próstata. Estudos epidemiológicos sugerem que a mesma associação talvez exista para câncer de intestino, de estômago e, possivelmente, câncer de mama.
Rapidamente se acumulam dados a respeito das implicações do aporte calórico na doença de Alzheimer, Parkinson, insuficiência cardíaca e outras enfermidades.
Coerentemente com os estudos experimentais, os efeitos maléficos da ingestão excessiva de calorias são mais acentuados justamente nos tecidos que não se renovam no corpo humano: músculos, cérebro, coração.
É importante dizer também que as dimensões dos órgãos internos guardam relação direta com o número de calorias ingeridas.
É importante dizer também que as dimensões dos órgãos internos guardam relação direta com o número de calorias ingeridas.
Quanto maior a energia absorvida na alimentação, maior é o peso do coração, fígado, rins, próstata, baço, músculos e dos gânglios linfáticos envolvidos na resposta imunológica.
Por capricho intencional da natureza, apenas o cérebro e os testículos mantêm constante seu peso, mesmo quando se diminui drasticamente o aporte energético.
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