De GRÃO em GRÃO
Entre outras, o milho protege a visão. E, segundo um novíssimo trabalho, o tipo que vem dentro da lata é o maior aliado
por Regina Célia Pereira | design Robson Quinafélix
A notícia é de encher os olhos: o milho enlatado contém substâncias
que diminuem o risco da degeneração macular. A constatação é da
engenheira de alimentos Giovanna Pisanelli de Oliveira, da Universidade
Estadual de Campinas, a Unicamp, que fica no interior paulista. Depois
de muito investigar, ela observou que os grãos utilizados pela indústria
alimentícia, bem diferentes daqueles que se come diretamente na espiga,
são os mais ricos em luteína e zeaxantina, substâncias cada vez mais
valorizadas quando se mira a saúde ocular.
A dupla faz parte da família dos carotenóides, pigmentos vegetais com
ação antioxidante. No nosso organismo, ambas protegem as células da
retina e afastam o mal que pode levar à perda da visão. "A degeneração
macular acomete principalmente os idosos", conta
o oftalmologista
Élcio Sato, da Universidade Federal de São Paulo. Daí a importância de
ficar de olho vivo na prevenção desde muito cedo, caprichando no consumo
de milho.
A pesquisa da Unicamp reforça que o milho não é apenas um concentrado
de amido, ou seja, um monte de açúcar, como muita gente pensa. "A
própria coloração denuncia a presença de betacaroteno", diz a
nutricionista Cynthia Antonaccio, da Equilibrium Consultoria em
Nutrição, em São Paulo. Esse composto transforma-se em vitamina A, que
beneficia — e muito — os olhos. Aliás, estudos apontam que uma dieta
rica no nutriente ajuda a evitar a cegueira noturna.
"O
milho também é rico em vitaminas do complexo B, importantes para o
sistema nervoso", lembra o nutrólogo Edson Credidio, diretor da
Associação Brasileira de Nutrologia. Para completar, outra expert, a
nutricionista Vanderlí Marchiori, da Associação Paulista de Nutrição,
chama a atenção para as fibras. "Os grãos oferecem tanto os tipos
solúveis quanto os insolúveis", comenta. O intestino agradece. E para
quem anda contando calorias não há motivo para preocupação. Duas
colheres de sopa somam cerca de 40 calorias, ou seja, nada que
prejudique a silhueta.
A pesquisa da Unicamp reserva outra boa
surpresa — desta vez para quem não abre mão dos cereais matinais do tipo
corn flakes, feitos de milho. Eles também são muito ricos em luteína e
zeaxantina. Uma tigela caprichada logo cedo é uma ótima maneira de
começar o dia.
Infelizmente, essa riqueza toda não marca presença nos derivados do
cereal comuns na mesa do brasileiro, como a farinha de milho, o fubá, a
polenta, a pamonha e o curau. Todas essas delícias também passaram pelo
laboratório, mas nenhuma mostrou tanta fartura em zeaxantina e luteína
quanto o milho da lata. Talvez você esteja se perguntando a razão pela
qual a engenheira de alimentos Giovanna Pisanelli de Oliveira resolveu
estudar o cereal e seus derivados. "É que o milho é um dos poucos
alimentos que combinam a dupla de carotenóides", responde a
pesquisadora. Embora a luteína apareça em folhas como a rúcula e a
couve, e a zeaxantina esteja no pequi e no pimentão, são raros os
vegetais que somam boas quantidades de ambas as substâncias.
CEREAL POLIVALENTE
Veja as dicas da nutricionista Cynthia Antonaccio para enriquecer o cardápio com grãos de milho sem monotonia
• Misture ao arroz já cozido
• Incremente saladas de folhas
• Acrescente em sanduíches de frango
• Jogue em sopas e caldos
• Use para cobrir torradinhas e leve ao forno
• Prepare um suco de limão, junte o milho com cebolinha e pimentão picado e regue carnes
• Inclua o ingrediente em refogados
ACERTE NA LATA
Não compre
embalagens amassadas ou estufadas. "Essas condições indicam a presença
de microorganismos", denuncia a nutricionista Késia Quintaes, de São
Paulo. O mais perigoso é o Clostridium botulinum, uma bactéria capaz de
causar o botulismo, doença
que muitas vezes é fatal. Preste atenção
também no prazo de validade, por motivos óbvios, e no rótulo, para não
ser pego de surpresa pela quantidade de sódio — um perigo para os
hipertensos. Uma vez aberta a lata, esvazie o conteúdo. Assim você evita
a contaminação por micróbios.
"Geralmente
os fabricantes acertam na quantidade que o consumidor costuma usar",
diz Késia. Se todos os cuidados forem tomados. não há motivo para
discriminar os enlatados. Muito pelo contrário. Saiba que eles conservam
muito melhor os nutrientes dos alimentos.
FOTOS SHEILA OLIVEIRA E FÁBIO MANGABEIRA| PRODUÇÃO ANDRÉA SILVA | CASA DO CHURRASQUEIRO MESALINHO
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