segunda-feira, 6 de agosto de 2012


Tratamentos antienvelhecimento estão na mira do CFM

Texto por Lígia FormentiEnviado por Agência Estado - ontem às 19h29
O Con­selho Fe­deral de Me­di­cina (CFM) pu­blicou nesta se­gunda-feira um pa­recer con­de­nando a pres­crição de hormô­nios em tra­ta­mentos an­ti­en­ve­lhe­ci­mento, por não haver evi­dên­cias ci­en­tí­ficas de que a te­rapia seja efi­ci­ente. Dentro de até dois meses, uma re­so­lução proi­bindo mé­dicos de re­co­mendar o uso desses pro­dutos de­verá ser edi­tada. 'O Có­digo de Ética já mostra que mé­dicos não podem in­dicar te­ra­pias não com­pro­vadas ci­en­ti­fi­ca­mente. O que vamos fazer é deixar mais clara a proi­bição da in­di­cação de hormô­nios', afirmou o vice-pre­si­dente do CFM, Carlos Vital.
Nos úl­timos quatro anos, cinco mé­dicos foram cas­sados por in­dicar tra­ta­mentos sem com­pro­vação ci­en­tí­fica. No mesmo pe­ríodo, ou­tros 10 pro­fis­si­o­nais foram con­de­nados pelos mesmos mo­tivos a penas de sus­pensão e cen­sura pú­blica. 'Em­bora a me­di­cina tenha avan­çado, a pro­messa de eterna ju­ven­tude ainda está no campo das fá­bulas', disse Vital.
Entre os hormô­nios in­di­cados por mé­dicos que atuam em clí­nicas de en­ve­lhe­ci­mento estão a me­la­to­nina, o cor­tisol, o hormônio do cres­ci­mento, pro­ges­te­rona e tes­tos­te­rona. 'Os tra­ba­lhos reu­nidos até o mo­mento mos­tram que, em pes­soas sau­dá­veis, o uso dos hormô­nios au­menta o risco de uma série de do­enças', afirmou a ge­ri­atra Maria do Carmo Len­castro, in­te­grante da Câ­mara Téc­nica do CFM.
Re­co­men­dação
No caso do hormônio da ti­re­oide, por exemplo, o uso em pes­soas sau­dá­veis pode levar ao hi­per­ti­re­oi­dismo. Já o hormônio de cres­ci­mento, quando em grandes quan­ti­dades no or­ga­nismo, pode levar a pro­blemas car­di­o­vas­cu­lares. 'O uso desses hormô­nios pro­voca uma so­bre­carga no or­ga­nismo, e, em con­sequência, um de­sa­juste hor­monal', contou Maria do Carmo. Esta é a se­gunda re­co­men­dação feita pelo CFM re­la­ci­o­nada a te­ra­pias que pro­metem in­ter­romper ou re­tardar o pro­cesso de en­ve­lhe­ci­mento. Em 2010, uma re­so­lução do co­le­giado proibiu a in­di­cação de te­rapia or­to­mo­le­cular, também por não haver efi­cácia com­pro­vada.
O di­retor da So­ci­e­dade Bra­si­leira de Ge­ri­a­tria e Ge­ron­to­logia, Salo Buskman, elo­giou o pa­recer do CFM. 'Era pre­o­cu­pante o cres­ci­mento da in­di­cação das te­ra­pias ditas anti-aging', disse, ci­tando o termo em in­glês. Por vá­rias ra­zões, se­gundo ele: além de pro­meter algo que não há como ser al­can­çado, a in­ter­rupção do en­ve­lhe­ci­mento, a te­rapia au­menta o risco de efeitos co­la­te­rais, e passa a ilusão de que o pa­ci­ente está com­prando saúde - o que, por sua vez, o leva a deixar de adotar um es­tilo de vida sau­dável.
Casos
Buskman contou ter re­ce­bido em seu con­sul­tório pa­ci­entes com efeitos co­la­te­rais pro­vo­cados por essas te­ra­pias. Mas ele res­salta que, muitas vezes, os pró­prios pa­ci­entes es­condem o fato de terem ado­tado a te­ra­pêu­tica. 'No fundo, eles sabem que o tra­ta­mento é con­de­nado, que não há evi­dên­cias de re­sul­tados. Mas o medo de en­ve­lhecer acaba fa­lando mais alto'. Ele diz que o con­trole dessas proi­bi­ções pelo CFM não é fácil de ser re­a­li­zada. 'Di­fi­cil­mente o pa­ci­ente de­nuncia. Em pri­meiro lugar, porque pa­ci­entes se iludem com a pro­messa feita pelos mé­dicos. De­pois, porque não as­so­ciam efeitos co­la­te­rais aos re­mé­dios'.
O pro­fessor da Uni­ver­si­dade Fe­deral da Bahia, El­simar Cou­tinho avalia que o CFM ex­tra­polou suas com­pe­tên­cias. 'O con­selho é um órgão edu­ca­tivo, tem de fis­ca­lizar a ética e não querer en­sinar pro­fes­sores sobre o que in­dicar para pa­ci­entes', re­agiu. O mé­dico, co­nhe­cido pelo uso de hormô­nios para mu­lheres pa­rarem de mens­truar, afirma não fazer tra­ta­mento an­ti­en­ve­lhe­ci­mento. 'O que tem de ser feito é re­po­sição hor­monal. Hormônio nunca re­ju­ve­nesceu'. Ele diz que não vai adotar ne­nhuma me­dida contra a de­cisão do CFM. 'Isso não me afeta. Só uso hormô­nios com in­di­ca­ções pre­cisas'.
O pa­recer do CFM teve início de­pois de o mé­dico Italo Ra­chid en­viar para o co­le­giado um do­cu­mento que reu­niria uma série de es­tudos com­pro­vando a efi­cácia do anti-aging. Dos mais de 5 mil tra­ba­lhos reu­nidos, no en­tanto, pouco mais de 1% trazia tra­ba­lhos sobre a aná­lise do en­ve­lhe­ci­mento e ne­nhum deles apon­tava be­ne­fício dos hormô­nios. 'A te­rapia an­ti­en­ve­lhe­ci­mento não é es­pe­ci­a­li­dade mé­dica. Nem no Brasil, nem na União Eu­ro­peia, nem nos Es­tados Unidos', lem­brou a ge­ri­atra.
De acordo com o pa­recer do CFM, no cur­rí­culo o mé­dico cons­tava trei­na­mento anti-aging. O pa­recer do CFM, no en­tanto, in­dica que essa li­gação não foi com­pro­vada. A re­por­tagem não con­se­guiu en­trar em con­tato com Ra­chid.

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